Terça-feira, 3 mar 2009 - 09h56
Que Plutão é um planeta-anão muito distante todo mundo sabe. Ele se encontra 40 vezes mais longe do Sol do que a Terra e essa grande distância torna seu estudo através da observação direta um grande desafio para os cientistas. No entanto, com a melhoria dos telescópios terrestres algumas descobertas começam a ser feitas e Plutão começa a revelar seus mistérios.
Usando o telescópio VLT (Very Large Telescope), localizado no Chile, cientistas europeus descobriram uma inesperada quantidade de metano na atmosfera de Plutão e verificaram que sua superfície é pelo menos 40 graus Celsius mais fria que sua atmosfera. Essas características estão associadas à presença de metano puro ou camadas ricas em metano localizadas na superfície do planeta-anão. "Com esse monte de metano fica mais fácil entender por que a atmosfera de Plutão é tão quente", disse Emmanuel Lellouch, cientista ligado à ESO, a Organização Européia para Pesquisa Astronômica e autor do trabalho científico. A descoberta foi possível, inicialmente, através da ocultação de uma estrela pelo planeta-anão, ocorrida no dia 21 de fevereiro (2009). Na ocasião os pesquisadores avaliaram que a atmosfera superior de Plutão era 50 graus mais quente que a da superfície, estimada em 170 graus Celsius negativos. No entanto, essa descoberta não explicava os valores de temperatura e pressão próximas à superfície. Alguns dias mais tarde, uma série de observações feitas com o espectrógrafo em infravermelho CRIRES (CRyogenic InfraRed Echelle Spectrograph) anexado ao telescópio VLT revelaram que toda a atmosfera de Plutão, e não apenas as camadas mais altas, apresentam uma temperatura média de 180 graus negativos, ou seja, muito mais quente que a superfície.
Desde os anos de 1980 se sabe que a atmosfera de Plutão é bastante tênue, constituída basicamente de uma delgada camada de nitrogênio com traços de metano e talvez de monóxido de carbono. À medida que se move ao redor do Sol em uma longa jornada de 248 anos, sua atmosfera gradualmente se congela e cai na superfície. Nos períodos mais próximos do Sol, como agora, a temperatura da superfície aumenta fazendo o gelo sublimar em gás. Até recentemente, somente as altas camadas da atmosfera de Plutão podiam ser estudadas. Ao contrário da Terra, a temperatura da atmosfera de Plutão aumenta com a altitude. Segundo os últimos estudos seu valor aumenta entre 3 e 15 graus por quilômetro, enquanto na Terra, sob circunstâncias normais ela decai aproximadamente 6 graus por quilômetro acima do nível do mar
As observações com o espectrógrafo CRIRES também revelaram que o metano é o segundo gás mais comum na composição atmosférica do planeta-anão e representa 50% das moléculas. "Estamos prontos para demonstrar que essa quantidade de metano tem papel crucial no processo de aquecimento da atmosfera e pode explicar os elevados valores encontrados", disse Lellouch. Segundo o cientista, uma das possibilidades é que a fina camada de metano na superfície pode inibir a sublimação do nitrogênio congelado me gás. "Estamos impressionados como um instrumento como o CRIRES tem a capacidade de medir traços de gás em uma atmosfera 100 mil vezes mais tênue que a da Terra em um objeto cinco vezes menor e localizado nos limites do Sistema Solar. É simplesmente fantástico", disse Hans-Ulrich Käufl, co-autor do trabalho junto à Lellouch. Apesar do grande avanço dos instrumentos terrestres, todos sabem que as melhores respostas sobre o planeta-anão só virão em 6 anos, quando a sonda norte-americana New Horizons chegará às imediações de Plutão. Até lá, os estudos à distância continuam.
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