Terça-feira, 9 jun 2009 - 09h24
Imagine que uma sonda em Marte detecte algum microorganismo, uma proteína, um vírus qualquer. Sem dúvida seria uma das maiores descobertas da humanidade. Agora imagine que após anos de pesquisa os cientistas descubram que esse microorganismo não passe de um exemplar terráqueo, que se instalou na sonda e foi transportado até o Planeta Vermelho.
Para que as sondas planetárias possam detectar sinais de vida, microbiana ou não, é necessário que seus sensores estejam perfeitamente descontaminados, sem a presença de qualquer elemento proveniente da Terra que possa ser confundido como originário do planeta em estudo. Para isso, o processo de limpeza dos instrumentos precisa obedecer padrões rígidos de descontaminação, caso contrário poderão gerar falsos alarmes e grande perda de tempo e dinheiro. Pensando nisso, os pesquisadores desenvolveram um novo protocolo de descontaminação de equipamentos espaciais, especialmente os robôs-escavadores, que serão usados nas buscas por formas de vida em outros planetas. O novo protocolo foi desenvolvido como parte de um projeto que investiga as formas de vida que existem no extremo ambiente do Ártico, que é o que mais se assemelha, aqui na Terra, ao ambiente marciano. O estudo será usado para ajudar os pesquisadores da Nasa e da Esa, a agência espacial européia, nas futuras missões planetárias. O estudo foi desenvolvido por cientistas da universidade de Leeds, na Inglaterra, em conjunto com cientistas da Nasa e foi publicado esta semana no periódico científico "Astrobiology". O protocolo envolve o dilema conhecido como "Transmissão de Contaminação" e assegura que microorganismos proveniente da Terra não viagem de carona até o planeta em estudo e comprometa as amostras coletadas pelos robôs.
"Queremos evitar qualquer equívoco que possa invalidar a identificação", disse a professora Liane Benning, bioquímica ligada à Universidade de Leeds e co-autora do paper (trabalho científico). "Sabemos que as assinaturas de vida em Marte, se houver alguma, serão extremamente escassas. Por isso precisamos minimizar ao máximo as interferências, analisando apenas as amostras que realmente não estejam contaminadas", disse Benning. Segundo a cientista, o método permite descontaminar completamente os dispositivos usados em campo e em laboratório, permitindo atingir níveis nulos de detecção de bioassinaturas orgânicas. "O mais importante é que esse procedimento não apenas esteriliza, mas também limpa qualquer traço de moléculas orgânicas de organismos mortos", explicou Benning.
Durante os testes de Svalbard o método de descontaminação se mostrou altamente eficaz e nenhum tipo de microorganismo foi detectado além daqueles que já eram esperados. Teste realizados com métodos anteriores sempre registravam sinais de vida alheios aos experimentos, mesmo em proporções baixíssimas. De acordo com a pesquisadora da Nasa Jennifer Eigenbrode, o trabalho vai orientar as futuras missões planetárias especialmente nas regiões frias do Sistema Solar, como Marte ou as luas de Júpiter e Saturno, Europa e Enceladus, onde estamos interessados em compreender os possíveis habitats de organismos que sobrevivem em baixas temperaturas. Leia mais sobre microorganismos espaciais
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