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Segunda-feira, 27 set 2010 - 11h26

Cientistas criam primeiro mapa global de micropoluentes

Abra os braços e respire fundo. Mas atenção: mesmo que o ar pareça limpo, com certeza você inalou milhões de partículas de PM2.5. Invisíveis aos olhos humanos, podem ser responsáveis por milhões de mortes prematuras todos os anos, mas só agora começaram a ser mapeadas com a ajuda de satélites.

Mapa de micropoluentes PM2.5
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Com menos de 2.5 micrômetros de diâmetro, cerca de 1 décimo da espessura de um fio de cabelo, as PM2.5 passam praticamente despercebidas pelas defesas naturais do corpo e penetram profundamente no interior dos pulmões. De origem natural ou fontes humanas, essas micropartículas estão em toda parte, mas devido ao seu tamanho são muito difíceis de serem detectadas.

Na maioria dos países em desenvolvimento, a ausência de sensores terrestres de poluição dificulta ainda mais o rastreio das PM2.5, tornando praticamente impossível estimar sua abundância na atmosfera.

Para preencher essa lacuna, cientistas canadenses e estadunidenses resolveram encarar o problema de outra perspectiva e passaram a utilizar os satélites de sensoriamento remoto para obter medidas mais precisas das PM2.5. No entanto, os instrumentos a bordo dos satélites não conseguem distinguir as partículas próximas à superfície daquelas presentes na alta atmosfera. Além disso, a captação dos dados é seriamente comprometida em áreas cobertas de nuvens ou superfícies altamente refletivas - como desertos de areia ou gelo, que falseiam os dados coletados.

Apesar das dificuldades, os pesquisadores canadenses Aaron van Donkelaar e Randall Martin, da universidade de Dalhousie, em Halifax, conseguiram pela primeira vez produzir um mapa global das PM2.5. O trabalho foi publicado na recente edição da revista científica Environmental Health Perspectives e foi produzido com dados dos satélites AQUA e TERRA da Nasa mesclados à distribuição vertical de aerossóis obtida através de um modelo matemático.


Resultados
O mapa mostra a média de PM2.5 entre 2001 e 2006 e oferece a melhor visão dessas partículas até o momento. Apesar da técnica empregada não produzir medidas tão precisas sobre regiões menos desenvolvidas, que não contam com grande malha de sensoriamento terrestre, os primeiros resultados já contemplam diversos países em desenvolvimento que não tinham qualquer estimativa até o momento.

Pelo mapa é possível ver os altos níveis de PM2.5 em uma larga área que vai desde o deserto do Saara até o leste da Ásia. Quando comparado com mapas de densidade populacional, os resultados sugerem que mais de 80% da população mundial respira muito mais partículas de PM2.5 do que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde, que é de 10 microgramas por metro cúbico.

O mapa também mostra que os níveis de PM2.5 são bastante satisfatórios na América do Sul, com algumas elevações na costa chilena do Atacama. No México os níveis são considerados acima do recomendado, assim como em algumas áreas urbanas do leste e meio-oeste dos EUA.

Ultrafinas
Segundo o epidemiologista Arden Pope, da Universidade de Brigham,essas partículas são tão finas que algumas conseguem até penetrar na corrente sanguínea e podem desencadear uma série de doenças, entre elas asma, doença cardiovascular e bronquite. De acordo com Associação American Heart, dos EUA, a poluição do ar por PM2.5 é a principal responsável por mais de 60.000 mortes por ano, só naquele país.

Origem e transporte
As partículas têm diversas origens e são transportadas de várias maneiras. Uma delas, natural, é a poeira mineral dos desertos da Arábia e Saara, que é levantada pelo vento. Entre as causas humanas estão as usinas e fábricas que queimam carvão, especialmente na China oriental e norte da Índia, onde são gerados fluxos contínuos de sulfatos e partículas de fuligem.

Além das fábricas e usinas, as PM2.5 também são produzidas de forma significativas pelos motores a explosão e queimadas agrícolas.


Arte: Primeiro mapa global de micropoluentes PM2.5. Crédito: Dalhousie University, Aaron van Donkelaar.

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