Terça-feira, 8 mai 2012 - 09h04
Quem está acostumado a monitorar a atividade solar através do Observatório heliosférico SOHO já deve ter reparado que as imagens estão travadas. O problema ocorreu em um dos dispositivos de orientação, que fez o satélite perder a posição correta de apontamento do Sol.
A falha teve início na tarde de 3 de maio de 2012, quando um dos detectores de posicionamento, chamado Curse Sun Pointing Attitude Anomaly Detector (CSPAAD) gerou um falso sinal ao computador de bordo informando que a posição do satélite estava incorreta. Imediatamente, o subsistema ACU-A (Attitude Control Unit A) tentou reorientar a espaçonave, mas devido à anomalia no sensor o observatório entrou em movimento de rotação descontrolada. Sem sucesso na estabilização do satélite, outro dispositivo entrou em operação, resetando a ACU e colocando o satélite em modo ESR (Emergency Sun Reacquisition), uma espécie de reconfiguração automática dos controles de atitude do satélite. Atitude, que não deve ser confundida com altitude, é um termo empregado para definir a posição física do satélite dentro da órbita. Com o acionamento do modo de emergência ESR, o SOHO passou a operar em modo grosseiro de orientação, chamado Course Roll Pointing mode (CRP), que garante uma estabilização e apontamentos primários. Isso permite aos controladores em terra ganharem novamente o controle sobre o satélite, mas sem precisão de guiagem para a coleta de dados, principal objetivo do observatório. De acordo com Goddard Space Flight Centre, da Nasa, que realiza as operações relacionadas à missão SOHO, nos próximos dias deverá ser realizada uma operação para rolar o satélite dentro da órbita. Isso fará com que a ACU-A saia do modo de emergência e aponte o Sol com a precisão desejada. No entanto, operações desse tipo já aconteceram outras vezes e o retorno do satélite não foi tão rápido como esperado.
No entanto, a pior falha ocorrida no satélite SOHO teve início em 24 de junho de 1998, durante manobras programadas e calibração dos giroscópios do observatório. Naquele dia o satélite perdeu a orientação e entrou em modo ERP por diversas vezes seguidas. Apesar das tentativas de correção, as equipes de controle perderam totalmente o contato com o satélite e os últimos dados de telemetria mostravam que o SOHO estava girando, perdendo energia e sem referência para estabilização. Um mês depois, em 23 de julho, cientistas da Nasa e da ESA (agência espacial europeia) utilizaram as antenas do radiotelescópio de Arecibo e da Rede do Espaço Profundo para localizar o telescópio solar e determinar a atitude do satélite (posição dentro da órbita) e constataram que o artefato estava na posição esperada, mas girando a 1 RPM. Planos foram criados para reestabelecer o contato com o satélite e em 3 de agosto a gigantesca antena de Arecibo captou a primeira transmissão do SOHO desde o dia 25 de junho. Os dados captados mostraram que as baterias ainda estavam carregando e a temperatura do satélite estava dentro de valores corretos, com exceção dos tanques de combustíveis que estavam congelados. Através de comandos enviados ao satélite, as equipe de recuperação começaram a alocar a limitada energia disponível e em 12 de agosto começaram a aquecer os tanques congelados de hidrazina e em 16 de setembro o SOHO foi finalmente reorientado. Depois de quase uma semana de atividades espaciais de recuperação, o barramento principal de energia voltou ao nível normal, com a recuperação dos instrumentos finalizada em 24 de outubro. Após essa conturbada fase apenas um giroscópio permaneceu operacional, até que em 21 de dezembro também parou de operar. O controle de atitude passou a ser realizado com disparos manuais de propulsores que consumiam até 7 kg de combustível por semana. Durante esse tempo, a ESA desenvolveu um novo modo de operação sem giroscópio (gyroless) que foi implementada com sucesso em 01 de fevereiro de 1999 e que funciona até hoje.
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