Quarta-feira, 12 jun 2013 - 11h58
Por Rogério Leite
Quando se pensa na Amazônia, logo vem à mente as gigantescas florestas, com chuvas diárias. De fato, algumas partes da floresta podem ser assim, mas em algumas áreas a chuva quase não cai, o que permite que os focos de incêndios se propaguem sem controle.
Clique para ampliar Um dos locais que mais sofre com o tempo seco é o sudeste amazônico, entre os estados do Pará e Mato Grosso. Ali, a estação seca dura de quatro a cinco meses, limitando as chuvas a pequenos gotejamentos. Para sobreviver, a exuberante vegetação exibe raízes que muitas não raro penetram mais de 10 metros no interior da terra. A fronteira entre a floresta e a região do Cerrado corta toda a bacia amazônica em uma linha irregular que percorre os estados de Rondônia, Mato Grosso e Pará. Nos últimos anos, essa região tem chamado bastante a atenção, pois é onde os interesses agropecuários e necessidades de aberturas de novas estradas entram em conflito direto com a floresta tropical e as grandes populações indígenas que ali vivem. Além desses problemas, bastante difíceis de serem equacionados, existe também um grande inimigo natural da floresta, um tipo de incêndio bastante difícil de ser detectado e que provoca mais desflorestamento que aquele causado pela atividade humana. São os chamados incêndios "sub-bosques", uma espécie de fogo rasteiro que se propaga abaixo da copa das árvores. Esses incêndios se arrastam ao longo da palha depositada no chão da floresta, mas não são quentes o suficiente para atingirem o dossel, a sobreposição de folhagens e galhos situadas muito acima do chão. Uma vez que os incêndios permanecem abaixo do dossel, os satélites de sensoriamento remotos não conseguem detectá-los, pois foram projetados para monitorar focos de incêndio com maior energia, quase sempre visíveis do espaço. No entanto, os satélites conseguem detectar as mudanças súbitas que ocorrem no dossel da floresta logo depois desses incêndios rasteiros, quando a vegetação morre e novas árvores crescem. Nos últimos anos, a Bacia do Rio Xingu é um dos locais da floresta amazônica que mais registrou esse tipo de incêndio, com algumas áreas apresentando mais de quatro focos de calor durante o mesmo ano. O gráfico foi construído com dados coletados pelo instrumento MODIS (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer) a bordo dos satélites de sensoriamento remoto TERRA e AQUA, da Nasa. Os dados mostram que os incêndios localizados dentro da reserva se concentram ao longo das margens do rio Xingu, onde os rios são a principal rede de transporte para os grupos indígenas da bacia do Xingu. Ali, semelhante a outras regiões remotas da Amazônia, as estradas são escassas ou sazonalmente inundadas. A cena também mostra que os focos de calor também são comuns entre os sítios e fazendas situados na fronteira da floresta, mas espalhados mais amplamente. "Uma das coisas que esta pesquisa mostra é que o desmatamento provavelmente não é a principal causa de incêndios do tipo sub-bosque, como se pensava até agora", disse o cientista Doug Morton, ligado à Nasa e que trabalha com os dados produzidos pelos instrumentos MODIS. "A simples presença de pessoas, indígenas ou não, juntamente ao tempo quente e seco é tudo que você precisa para criar os grandes incêndios sub-bosque que queimam pela borda sul da Amazônia", explicou o pesquisador que arrisca uma pergunta: "Será que a floresta ao longo das bordas da Amazônia consegue suportar todos esses incêndios ou será que veremos uma transição gradual de floresta para a savana ao longo do tempo?".
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